quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Considerações sobre o (anti)consumismo

Frequentemente podemos ver alguém respeitado no meio acadêmico criticando o consumo exacerbado que toma conta da sociedade. No entanto, fazendo uma análise rápida, é possível observar que, geralmente, esse crítico do consumo já atingiu razoável sucesso na vida, usufrui de prestígio social, já adquiriu a maioria dos itens que sempre desejou. O crítico, já satisfeito com o sucesso financeiro que alcançou e realizado com sua inserção social, considera que não é necessário que os outros experimentem desses valores. Acaba partindo do raciocínio que, se ele conquistou, é fruto de êxito próprio e merecido. Se outro, ainda sem condições, quer conquistar, é pretensão exagerada.

O consumismo é uma disfunção natural do sistema capitalista. Deriva do consumo ao qual todos somos constantemente estimulados pelas datas comerciais, pelo aumento da renda que leva ao aumento do poder aquisitivo, pelo aquecimento da economia, pela publicidade. Tudo isso nos leva à vontade de ter, de conquistar. O estímulo ao consumo, portanto, não irá acabar. É parte importante do capitalismo. Mas, uma vez que esse é o sistema vigente, sendo que nem os partidos de cunho comunista ou socialista questionam sua prevalência, como fazer para torná-lo menos desigual?

O sistema capitalista, de bons valores como a livre iniciativa e o empreendedorismo, parte da premissa de que ao cidadão bastam a vontade, a capacidade e o esforço individuais para, sendo apto, conseguir realizar suas aspirações. E sabemos que não é sempre assim. Quem não tem estrutura, não nasce com boas condições familiares, financeiras, de acesso à saúde e à educação, esbarra em entraves muitas vezes complexos de superar sem algum tipo de auxílio. E esse auxílio pode vir justamente da educação. Uma educação crítica, que faça o cidadão entender o seu papel, o sistema no qual se insere, seus defeitos e virtudes, suas possibilidades. E ampliá-las ao extremo. Uma educação de qualidade. Integral.

Nesse momento entra em cena um agente muito importante: o Estado. Talvez esse seja o único ente capaz de tornar o sistema mais humano. Se o Estado tomar como sua responsabilidade cada cidadão, cada jovem que procura um futuro melhor nesse país, oferecendo condições dignas de acesso à educação, e consequentemente à saúde, ao exercício pleno dos direitos constitucionais e civis, e ao mercado de trabalho, será possível permitir aos que são desprezados pelo sistema vigente usufruir o seu direito de fazer parte dele na sua plenitude. Consumir, realizar vontades, planejar, sonhar e tentar alcançar. Tendo educação, trabalho e acesso ao consumo, viver um capitalismo de menos desigualdade e mais estímulos positivos ao crescimento pessoal e profissional. Caso contrário, estamos apenas dizendo ao mais fraco que ele precisa erguer um caminhão de 15 toneladas, sem qualquer ajuda, enquanto alguns privilegiados são os únicos a merecer - ou melhor, consumir - a tão sonhada felicidade.

5 comentários:

RC disse...

Grande Alex, peço que dê uma olhada na série lá no meu blog. Abs.

e-Chaine disse...

Acredito que o capitalismo muito não combina com ideia de 'igualdade'. Não que eu seja socialista...

Guto Melo disse...

Rapaz, uma coisa é o consumo, outra é o consumismo. Há um antropólogo argentino, radicado no México, chamado Néstor García Canclini. Esse cara escreveu um livro cujo título é Consumidores e Cidadãos - Conflitos Multiculturais da Globalização. Na obra, ele defende a ideia de que atualmente estamos construindo nossa identidade e nossos "territórios" de pertencimento por meio do consumo. Nesse sentido, consumir vai muito além do ato de comprar algum bem, e adquire um caráter simbólico.

Particularmente, não vejo o consumo como um problema, mas o consumismo sem dúvida é, pois se traduz em um excesso. Ainda mais em um país como o Brasil, marcado profundamente pela escravidão, marcas que estão vivas em nosso comportamento até hoje. Por exemplo: nós, brasileiros, tendemos a valorizar o bem e a desvalorizar o trabalho. Isso é reflexo da escravidão. Pegando o exemplo do Pedro Cardoso, em entrevista a Lázaro Ramos, no programa Espelhos, do Canal Brasil - "Somos capazes de dar um milhão de reais em um apartamento, mas quando contratamos o pintor que vai pintar o nosso apartamento e ele nos cobra 5 mil, dizemos que está caro".

No mais, se dependermos do Estado para tornar o sistema mais humano, a gente está ferrado. O Estado, corrompido do jeito que está, controlador e proibitivo do jeito que é... A gente se torna mais humano quando tem cultura.

Finalmente, aquele que acredita que é feliz porque tem condições de consumir coisas é evidentemente um tolo.

Um abraço e vê se afrouxa o nó dessa gravata.

Guto Melo disse...

Só uma correção - o programa apresentado pelo Lázaro, ao qual me referi se chama Espelho, no singular.

Anônimo disse...

Ótima contribuição do leitor Guto. Não tem como ler Canclini e não repensar os motivos que nos levam a consumir. O autor do blog fez afirmações muito generalistas a respeito dos críticos do consumo, como a de que os críticos normalmente já estão em um patamar de consumo superior. Recomendo ao autor afrouxar a gravada e a aprender a consumir ideias melhores antes de formar opiniões do tipo.