sexta-feira, 20 de junho de 2014

Por que não serei candidato em 2014

Amigas leitoras e amigos leitores, diante do processo eleitoral que se aproxima, me senti compelido a escrever a vocês para explicar por quais motivos não serei candidato nessas eleições.

Os amigos que acompanham minha participação na política há algum tempo sabem que me filiei ao Partido Democrático Trabalhista – PDT em 2004, ainda com 21 anos. Escolhi o partido pela identificação que minha família e eu tínhamos (e ainda temos) com os ideais de defesa da educação e do trabalho como forma de emancipação e valorização do ser humano, bem como do desenvolvimento nacional, tão bem defendidos por nomes como o de Leonel Brizola e do Professor Darcy Ribeiro.

Em 2010, fruto da participação ativa em questões sociais e partidárias naquele momento, veio a minha candidatura a Deputado Distrital. Com 27 anos de idade, começando a construir uma carreira no serviço público e ainda desfrutando de certa notoriedade por conta da breve carreira como DJ e radialista, mas contando principalmente com o apoio de familiares e amigos – todos vocês –, foi possível realizar uma bela campanha, com duas bandeiras: maior eficiência da Gestão Pública e melhor qualidade do atendimento ao consumidor.

Mesmo tendo recebido algumas críticas de amigos e conhecidos por terem sido consideradas pautas muito avançadas ou “acadêmicas demais” para uma política pautada ainda em grande parte por relações patrimonialistas e imediatistas, segui com a defesa dessas duas bandeiras, sem hesitar, tendo alcançado 753 votos distribuídos por todas as Zonas Eleitorais do Distrito Federal. Ainda falando em números, ficamos na casa dos 280, dentre 820 candidatos, numa campanha que gastou apenas R$ 12 mil de recursos próprios e de familiares, que foram utilizados para impressão de material gráfico e ressarcimento de despesas dos voluntários que bravamente auxiliaram na campanha.

Ocorre que, após a eleição, tratei de me voltar mais para o lado pessoal e familiar, tão negligenciado após o elevado grau de exposição que os três meses de eleição proporcionaram. Os aspectos profissional, acadêmico e afetivo voltaram a ter a saudável prioridade em minha vida. Não abandonei, no entanto, o gosto pela política, tendo sido muito bem recebido no Partido Socialista Brasileiro - PSB, onde estive de 2011 a 2013 e pude participar de debates de elevadíssima qualidade sobre política, juventude, políticas públicas e gestão pública.
 
No entanto, a ligação com a história do PDT me fez retornar em 2013, a convite de seu Presidente Regional, Dr. Georges Michel, da Secretária Regional Eroídes Lessa, do Senador Cristovam Buarque e do Deputado Federal Reguffe (a todos agradeço pela acolhida calorosa e pelos exemplos de pessoa que são). De pronto, fui alçado a pré-candidato para o pleito eleitoral de 2014, o que foi motivo de muito orgulho para mim.

Mas fui constatando, ao longo desse período em que figurei como pré-candidato, que meu momento de vida era bem diferente de 2010. Se a candidatura em 2010 foi momento de grande realização pessoal, tantas outras realizações que tenho buscado ainda não se concluíram em 2014, e dependem de meu esforço e dedicação integrais, incompatíveis de se conciliar, ao menos por agora, com a atividade política. Constatei, ainda, que não só a atividade política, mas também o exercício de funções técnicas, podem ajudar sobremaneira na prestação de um serviço público de qualidade à Nação.

Continuo acreditando, todavia, na participação cada vez maior dos cidadãos na política como forma maior e mais efetiva de alcançar nosso pleno desenvolvimento como sociedade. Não só na política partidária – mas também nela –, mas nas associações, prefeituras de quadra, reuniões de condomínio, audiências públicas promovidas por órgãos de governo. Enfim, o tempo que “gastamos” – prefiro dizer investimos – em reuniões para debater questões coletivas é diretamente proporcional ao desenvolvimento que esses debates proporcionam à coletividade em si.

Enquanto continuarmos preocupados exclusivamente com nossos mestrados, nossas carreiras, nossa qualidade de vida, ALGUÉM sempre estará tomando todas as decisões coletivas por nós. É aí que reside a estupidez do voto nulo. “ - Não confio em ninguém que está se candidatando, então vou anular todos os meus votos, de ponta a ponta. É a minha forma de protestar”. Ouvi isso de diversas pessoas, e não foram poucas as vezes. Procurar no Google o histórico de candidatos pouco conhecidos? “- Dá trabalho”. Participar da vida política, em reuniões e debates, e eventualmente vir a ser candidato? “- Nem pensar!”. Não é isso?

Mas as pessoas parecem ter esquecido que boa parte dos pensadores e dos grandes expoentes, não só da História Brasileira, mas mundial, foi político ou esteve em algum momento envolvido na política. Que quem escreveu nomes nos livros de História, para o bem ou para o mal, foram políticos. Que a política não é apenas a política partidária, mas a política de boa vizinhança, a política de um condomínio, a política de uso de um software, a política econômica. Que as políticas públicas são definidas por órgãos políticos cujos mandatários ajudamos a eleger. Em suma, que a política em sentido amplo está intrinsecamente ligada às relações humanas, ao poder e à capacidade de ditar rumos de alcance geral.

O “nulo”, o “nada”, não administra. Não escolhe ministros, não presta contas, não define prioridades. Já “alguém”, uma pessoa, essa sim é uma figura apta a exercer todas essas funções. E as coisas tendem a melhorar quando confiamos na integridade do “alguém” que desejamos colocar para cuidar desses assuntos, ou mesmo quando acreditamos ser nós mesmos esse alguém. A anulação, apesar de dar a falsa sensação de protesto, apenas legitima a corrente majoritária da ocasião, seja qual for. Afinal, não existe espaço vazio no poder. Se existir espaço político, alguém irá ocupá-lo. Se não for alguém em quem confiamos, pode ser alguém em quem não confiamos. Mas sempre haverá alguém.

Não culpo, no entanto, quem vota nulo ou culpa a política por todos os males, e em lugar de querer entrar nela para melhorar, prefere apenas criar ojeriza e se afastar.  Afinal, os meios de comunicação em geral não têm ajudado em nada no despertar da vocação dos jovens para a política. Apenas noticiam os maus exemplos e fazem todo tipo de associação pejorativa à expressão “política”. Os bons exemplos ganham poucas inserções, dão pouco Ibope. A classe política também não tem vivido sua melhor fase, exportando com grande frequência parte de seus integrantes dos cadernos de política para as páginas policiais.
 
Faltam, portanto, líderes que digam à população sobre a importância da política. Mas esses líderes não estão sendo formados, porque não se estimula os jovens talentos a entrar na política. A imprensa, os pais, os familiares, os amigos sugerem todos os caminhos possíveis: estudos, arte, mestrado, viagens, dança, esportes... tudo, menos a política. E assim entramos num círculo vicioso de ausência de novas lideranças políticas. A justificativa de que “- não participo porque qualquer pessoa de bem que entra ou se suja ou é expulsa da política” parece atender a quem tem preguiça ou quem não garante a integridade do próprio caráter. E não querer atrair gente boa para a política é querer um ambiente de pleno atraso, que certamente não interessa a quem tem amor pela sua cidade ou por este País.

Dessa forma, continuo valorizando a coragem de homens públicos como os senadores Cristovam Buarque (PDT-DF) e Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), o deputado federal Reguffe (PDT-DF) e o deputado distrital Joe Valle (PDT-DF), que abriram mão da vida pessoal tranquila que poderiam ter, como cidadãos da chamada classe média-alta (professores, servidores públicos, empreendedores) para perder sua privacidade, ser alvo de todo o tipo de cobrança da população, mas sempre podendo se dirigir a todos de cabeça erguida, olhando nos olhos, coisa que nem todos os políticos conseguem fazer. Seria muito mais cômodo para cada um deles seguir a vida de servidor público, professor, empresário, com uma rotina mais tranquila e vida pessoal muito mais preservada. Mas preferiram seguir firme em seus ideais.

No mesmo sentido, enalteço a coragem de colegas de grande valor que também estão abrindo mão de suas rotinas, para, pela primeira, segunda ou terceira vez, entrar nessa disputa. Será um prazer apresenta-los a vocês, diante das qualidades como profissionais e seres humanos que eles detêm. Tendo essas qualidades como premissas, tudo indica que serão grandes homens públicos, precisando apenas que a sociedade lhes oferte um voto de confiança, como fez há mais tempo com os parlamentares citados no parágrafo anterior.

Me verei plenamente representado na política por bons nomes, portanto, se assim a sociedade escolher. E, mesmo fora do pleito eleitoral, terei a segurança de estar contribuindo de forma efetiva para a melhoria da nossa Administração Pública, não apenas como servidor público. Isso porque, em 5 de maio de 2013, iniciei com um grupo de amigos um trabalho muito maior que uma candidatura individual. Trata-se de uma iniciativa suprapartidária da sociedade civil denominada Movimento Gestão Pública Eficiente – MGPE (www.gestaopublicaeficiente.com.br / www.facebook.com/gestaopublicaeficiente), e que muitos de vocês já prestigiam.

Hoje somos mais de 1.000 pessoas nas redes sociais, compartilhando, por meio de artigos e iniciativas, a importância da eficiência na gestão pública para a percepção de cidadania do brasileiro e o desenvolvimento nacional. Pudemos, assim, transformar o que é um tema de predileção e foi uma bandeira de campanha, numa pauta muito maior, que transcende qualquer candidatura, e deve ser sim tema de primeira importância na agenda de qualquer político, com ou sem mandato.

Foi com a candidatura, em 2010, bem como com o MGPE, de 2013 até o momento, que ajudamos a dar ao assunto a prioridade política que deve merecer. Reparem que, nas eleições que estão por vir, diversos candidatos trarão claramente a pauta de qualidade e eficiência da gestão pública em seus discursos e propostas de campanha, tanto em nível federal quando distrital, com volume muito maior que nas eleições de 2010. E o MGPE oferecerá oportunidade a todos aqueles candidatos, se assim desejarem, de firmar publicamente o compromisso com a defesa da qualidade da gestão pública, com a devida divulgação nos espaços virtuais do Movimento. Dessa forma, o eleitor terá como aferir a biografia e as propostas de pessoas que têm a qualidade da gestão pública como compromisso.

Por fim, minhas amigas e meus amigos, quero agradecer. Quero agradecer quem leu este texto até aqui; quem me apoiou nas eleições de 2010 (há muita gente que o fez e cujo contato acabou se perdendo – estejam certos que lembro de cada um e ainda sou muito grato!); quem me apoia sempre na vida pessoal, no MGPE e em tantos outros projetos e momentos que partilhamos nessa vida – MUITO OBRIGADO! Peço desculpas também àqueles que esperavam com carinho uma nova candidatura da minha parte, me estimulando de forma recorrente(obrigado ao Sr. Paulo, in memoriam, e tantos outros amigos queridos) – alguns inclusive transferiram a localidade de seus títulos eleitorais para poder me prestigiar. Lamento qualquer transtorno, mas estou certo de que, com bons nomes cujas candidaturas se avizinham, teremos opções dignas a quem confiar o voto.

Muito obrigado e até breve!