quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Febre amarela e qualidade no atendimento da Saúde

Creio que todos os amigos leitores deste blog, com o alarde provocado pelas últimas notícias, já procuraram algum posto de atendimento para se prevenir contra a febre amarela. Não se preocupem comigo, pois como recentemente tive de realizar missão a serviço na Guiana Francesa, já havia tomado a vacina há alguns meses.

No entanto, não escapei: esses dias tive de procurar um posto de saúde para tomar a segunda dose da vacina contra Hepatite. Como a primeira dose foi tomada no posto de saúde do final do Lago Sul, resolvi tomar a segunda injeção também por lá.

Ao chegar no local, um susto: o outrora tranqüilo posto estava com o estacionamento lotado e uma enorme fila de pessoas aguardando pela vacinação contra a febre amarela. Nada mais justo.

Fiquei um pouco receoso de não haver outros tipos de vacina, em razão da enorme procura pela de febre amarela. Mesmo assim, entrei na fila sem tentar obter maiores explicações. Lá tive o prazer de conhecer uma jovem profissional da área de saúde; uma simpática e elegante dona de casa do Lago Sul; e uma senhora de mais idade, empregada doméstica, ainda mais simpática que a outra. Conversei com aquelas três mulheres de classes, gerações e níveis culturais diferentes, e pude aprender um pouquinho com todas elas, e elas puderam aprender uma com a outra.

Naquele papo agradável, pude perceber que quando o assunto é qualidade de vida, bem estar da população, saúde e esperança, quase não há discordância entre nós: somos todos brasileiras e brasileiros ávidos por soluções e bom atendimento.

E lá pude ver que as pessoas saíam com uma expressão satisfeita no rosto, ao constatar que as instituições ainda funcionam. Ao ver uma fila grande, porém organizada e rápida, as pessoas que chegavam pareciam saber que seriam atendidas com qualidade. Havia um verdadeiro mutirão cuidando da vacinação contra febre amarela nas outras dependências do posto. Ao receber um "boa tarde" da enfermeira e ver o responsável pelo posto na porta, coordenando o trabalho de atendimento, as pessoas sentiam segurança. Mesmo sem um funcionário destacado para organizar a fila, os próprios cidadãos exerciam o seu poder de polícia, encaminhando ao local correto, com educação, aqueles que se equivocavam e acabavam "cortando" parte da fila. Arrisco dizer que 15 minutos era o tempo médio que as pessoas gastavam entre o final da fila e a chegada à sala de vacinação.

Lógico que, para evitar erros em um trabalho que me pareceu tão bem organizado e aproveitando para exercitar o que já discutimos aqui no blog a respeito de ruídos na comunicação, colaborei, deixando claro logo de início que a minha vacina seria de hepatite, uma exceção para aquele dia. Fui encaminhado de imediato à sala onde era aplicada este tipo de vacina, em perfeito funcionamento.

É sabido que estamos falando do Lago Sul, que serve como exemplo de qualidade de vida para outras áreas do Distrito Federal e do país. Mas o que impede, em termos de material humano e repartição do bolo orçamentário, que estendamos tal qualidade às outras áreas do Distrito Federal? Acho que esse é o meu grande sonho: que um dia consigamos oferecer a todos os cidadãos serviços públicos de primeira qualidade. E o primeiro passo para que isso aconteça não depende necessariamente de dinheiro, e sim do material humano: a qualidade no atendimento.

Um intelectual por quem guardo grande respeito e que já trabalhou na área de saúde, o sociólogo e professor Bailon Vila Nova, certa vez me contou que boa parte dos atendimentos médicos que prestava o órgão da Administração Pública no qual ele trabalhava eram solucionados com a conversa e atenção dos profissionais de saúde para com aquelas pessoas que procuravam o serviço médico. Orientação psicológica, conversa e afeição era o que aqueles cidadãos precisavam naquele momento para eliminarem as supostas enfermidades das quais acreditavam ser vítimas. Uma equipe multidisciplianr oferecia a devida atenção a cada um, e pronto: boa parte daquele público se via curado, sendo encaminhados para os hospitais apenas os casos que realmente necessitassem de tratamento médico. Ganhavam os cidadãos, com o aumento da sua qualidade de vida, ganhava o Estado, menos demandado a gastar com a manutenção de seus hospitais.

Um eficiente treinamento e remanejamento de servidores seria um bom começo para estender essa cultura. Basta, é claro, que haja vontade política neste sentido. E, também, que os servidores possuam a vocação para servir, mencionada anteriormente neste blog.

Parabéns à equipe do posto de saúde do final do Lago Sul e à Administração daquele bairro por dar este saudável exemplo, mote de uma das discussões que pretendemos manter sempre em foco por aqui: a qualidade do serviço público.

Informações úteis sobre febre amarela podem ser encontradas no portal do Ministério da Saúde.

Um comentário:

Beto Veiga disse...

Caro Alex,
Texto mais limpo que o posto de saúde que você visitou.
Agradável história e, ao mesmo tempo, reconfortante.
Juntando esta postagem com a do Reguffe, poderemos crer que, em breve, teremos mais alguém em quem acreditar