sábado, 8 de dezembro de 2007

A pia, o pé e o parlamento



Era quinta-feira, uma quinta-feira que prometia grandes e boas mudanças. O mau hábito de prorrogar o sono havia sido deixado de lado. Levantei com a disposição de quem queria realmente mudar. Não havia sido repreendido pela minha chefe, mas notava a sua insatisfação com o tardar de uma das minhas atribuições mais triviais. Como sou dotado de auto-crítica, já havia deixado minha namorada avisada na véspera: Amor, amanhã não posso me atrasar.

E para colaborar com esse objetivo, ela também deixou de lado os seus 5 minutinhos a mais de sono. Levantamos ao mesmo tempo, unidos no intuito de não nos desgastarmos em nosso ambiente de trabalho. Fui rápido para o banho, onde até abandonei minhas costumeiras reflexões naquele momento tão introspectivo do dia. Ela, como sempre, já estava mais adiantada. Terminou o banho e já estava ali, procurando a roupa ideal para vestir. Escovando os dentes em frente ao espelho.

Eu, no outro banheiro, ouvi um estrondo. Como os vizinhos de cima volta e meia fazem alguma reforma no apartamento, após rápida pausa no chuveiro, voltei ao que fazia.

Sou interrompido pelo grito choroso: - Amooor! Rápido! Saio do banho e, atônito, vejo minha namorada chorando, mancando, com um enorme corte no pé, já inchado, me dizendo que a pia do banheiro caíra sobre ele.

O carro estava na oficina. Eu havia prometido para mim mesmo chegar mais cedo ao serviço. Enfim, se o tal inferno astral se dá mesmo 1 mês antes do aniversário, tive a certeza de que estava confirmado o seu início.

Liguei para o plano de saúde, aquele que dá mil dores de cabeça. Informei à atendente: Pago a opção de resgate móvel. Estou sem carro e uma pia acaba de cair sobre o pé da minha namorada. O resgate me atende? - Bom, senhor, as coberturas de resgate estão no plano de adesão, o senhor tem ele em mãos? - Minha senhora, a minha mulher está gritando de dor, só preciso saber se o resgate vai vir me resgatar ou não! - Senhor, neste caso, como é algo que não está descrito no plano, fica a critério da equipe médica. Vou transferir para o atendimento do resgate.

E aqueles minutos duraram horas. Desliguei, desesperado, mas resolvido. Tinha o telefone do taxista que nos levou ao trabalho no dia anterior. Informei o problema, ele disse estar ocupado mas prometeu mandar um colega. Foi o tempo da minha mulher se vestir e o táxi já estava lá. Não sei como, mas ainda consegui arrumar coordenação para dar o nó da gravata, já que, caso corresse tudo bem, precisaria ir do hospital direto para o trabalho.

O taxista foi prestativo e nos levou ao hospital no outro lado da cidade por uma quantia justa e com a rapidez de quem vai tirar o pai da forca. Enquanto pagava, ele nos deu um simpático: Boa sorte! Uma alma caridosa ajudou a colocar minha namorada na cadeira de rodas, e o pessoal do balcão de atendimento logo priorizou o caso. Fomos muito bem tratados por toda a equipe médica. Nesse meio tempo, tive a oportunidade de pedir que segurassem as pontas no meu trabalho e de entrar em contato com meus pais, sempre presentes em todas as horas. Minha tia, que mora ao lado do hospital e é outra boa alma, foi nos buscar e nos levar para o aconchego do seu lar. Passado o susto, nenhum osso quebrado, apenas inchaço e pontos. Nos regozijamos, eu e minha namorada, com o delicioso suco de acerola da casa da tia.

Depois disso, fomos ao posto de saúde tomar a vacina anti-tétano. De mero acompanhante passei a vítima das agulhas da simpática vacinadora. Agora era voltar à vida normal. Meus pais me deixaram no trabalho, onde almocei, pedi desculpas e tirei o peso de clima ruim que estava me acompanhando. Minha namorada foi paparicada pelos sogros, bem do jeito que ela gosta. E a vida voltava a parecer a mesma, exceto porque agora eu teria que mimar e cuidar da minha namorada, coisa que antes eu estava acostumado mais a receber do que a oferecer. Além disso, jamais voltarei a olhar para uma pia como algo insosso e inofensivo, e me sinto na obrigação de compartilhar essa experiência com vocês para que tomem as suas precauções.

Agora, você deve estar se perguntando: E onde entra o Parlamento? É que o prédio onde moro foi construído pela empresa de um ex-parlamentar, que teve o mandato cassado tempos atrás. Nota-se que a qualidade dos materiais empregados na obra guarda relação com a qualidade de sua consciência política. A holding do grupo deveria ter as letras invertidas em sua ordem para retratar mais fielmente aquilo que oferece como serviço. Apenas para acrescentar, ninguém no meu prédio possui a escritura do imóvel, que a construtora tratou de hipotecar. Será que essa construtora é idônea? Competência, acho que só no blablablá para enganar a população. É desse tipo de gente que o parlamento brasileiro definitivamente não precisa.

Um comentário:

Marcela disse...

Tadinhaaaaaaa! Primo, manda um beijo pra ela, espero que fique boa logo!