Há tempos os brasilienses têm notado o aumento da falta de urbanidade no trânsito do Distrito Federal. É cada vez mais comum nos depararmos com pessoas "tesourando" outros carros, passando por sinais vermelhos, desrespeitando a preferência em rotatórias, fazendo conversões proibidas e acelerando quando vêem alguém acionar a seta, não deixando que entrem em "sua" faixa.
Não acredito que isso seja reflexo apenas do estresse da vida moderna. Nem de falta de conhecimento das regras de trânsito. Acredito que dois fatores contribuem de forma preponderante para esse fenômeno negativo: o primeiro é a sensação de "terra sem lei" que há tempos se abate sobre o brasiliense, que se vê sem "síndico", a cidade sem cuidado, a segurança insuficiente, a saúde - pública e particular - pouco atenciosa e sem recursos.
"Se não há saúde, não há segurança, não há zelo pelo patrimônio da cidade, quem irá me penalizar por essa 'pequena' infração?" - pensa o motorista, que vê na defesa do seu tempo, do seu carrro, da "sua" faixa, motivo de esquecer de quaisquer outros princípios caros ao convívio em sociedade.
O segundo fato é a falta de um espírito de coletividade mais arraigado no brasiliense, extremamente dependente do automóvel - e dentro dele isolado em boa parte do dia -, que contribui para esse sentimento de maior individualismo quando na condução dos veículos.
O problema do trânsito no Distrito Federal é um dos mais complexos que a unidade federativa enfrenta, porque decorre da necessidade de uma total reformulação do transporte e do conceito de mobilidade urbana tradicionalmente desenvolvido por aqui.
Ao longo desses 53 anos, nos acostumamos ao carro e dele nos tornamos reféns. Essa dependência excessiva gera gargalos nas nossas vias que, apesar de mais engarradas, continuam permitindo o desenvolvimento de alta velocidade. E parece que ainda não aprendemos a lidar adequadamente com isso.
Andar mais devagar, desenvolver um espírito de maior cordialidade, reduzir a velocidade para permitir que o outro carro mude de faixa... mudanças de atitude que precisam ser internalizadas pela parcela dos brasilienses que ainda não o fez, e que só podem ser efetivadas por meio de muita conscientização e algum reforço na fiscalização.
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