domingo, 1 de julho de 2012

Seja o que for

Em minhas andanças, tenho ouvido de alguns jovens frases que me preocupam cada vez mais. A busca desses jovens pelo ingresso no serviço público não se trata de busca por realização pessoal e profissional, mas por mera busca de estabilidade e remuneração acima da média da iniciativa privada. Ingressando no serviço público, não têm uma preferência específica de atividade. Com salário e estabilidade, encaram qualquer atividade. Seja o que for.

Confesso que me dói um pouco ouvir que alguém quer trabalhar em determinado órgão não por aquela repartição tratar de determinado tema com o qual se tem afinidade, mas simplesmente por ser um bom emprego, sem necessariamente um trabalho que lhes agrade. 

Alguns jovens de hoje, ainda numa fase onde deveriam estar cheios de sonhos, aspirações e tendências a tentar vôos dos mais altos possíveis em suas vidas profissionais, acabam buscando o serviço público não por vocação para carreiras tão importantes e sedutoras como a da diplomacia, a de inteligência, bem como as de gestão, planejamento, regulação, fiscalização, a advocacia pública etc., mas sim pela busca de um contracheque que, chova ou faça sol, não irá tardar em chegar.

Com isso, o universitário não aspira mais abrir o seu negócio: busca ingressar em algum cargo de alguma repartição. E mata-se, assim, o empreendedorismo de milhares de jovens, que deixam de ousar em suas carreiras em troca de uma vida estável.

E eles estão errados? De forma alguma. Buscam boas condição de trabalho e uma vida digna e acabam, ainda que sem se dar conta, servindo a contento ao País. No entanto, não o servem da melhor forma, pois muitas vezes poderiam estar atuando de forma muito mais proveitosa em áreas como arte e cinema, música, pesquisa, comércio, publicidade, setor financeiro, etc., promovendo de forma efetiva o desenvolvimento do Brasil, só que no setor privado. Não o fazem por uma falta de coragem diariamente reforçada por pais, tios e cursinhos. 

Aniquilar a capacidade do jovem de livremente escolher a carreira que gostaria de seguir, seja no setor público ou privado, é construir um País de pouca criatividade, pouca efetividade nos dois setores, e muita insatisfação, tanto por parte dos servidores como dos contribuintes. 

Uma forma de evitar isso seria, ao divulgar os concursos públicos, destacar, em vez das vantagens que os cargos oferecem, as atribuições que os servidores públicos terão que desempenhar naquele órgão, para que o jovem possa realizar sua escolha profissional de forma consciente, percebendo em si a vontade que tem - ou não - de exercer aquele ofício.

Um comentário:

ROSIDELMA FRAGA disse...

Acontece que falar da atribuição do cargo ou da função a ser desempenhada depois de aprovado não ajudará nenhum jovem a decidir o que quer. O dinheiro e a posição social sempre foram e serão os objetivos fulcrais na hora de decidir a carreira. Por que será, por exemplo, que os vestibulares de licenciatura não são concorridos? Por que ninguém hoje quer ser professor?