terça-feira, 11 de janeiro de 2011

E depois, a culpa é do concurseiro...

Nas minhas andanças, tenho percebido que a decisão do jovem servidor de prestar concursos para outros órgãos nem sempre é bem vista pelos seus colegas da administração pública. Em que pesem minhas críticas a quem institui a aprovação em seguidos concursos como um padrão de vida, sem qualquer identificação com os objetivos da administração pública, quero lembrar que muitas vezes o jovem servidor é levado a prestar concurso para outros órgãos como única forma de crescer efetivamente em sua carreira pública, evitando a inércia que o levaria a sentir-se desestimulado em sua função, o que ocorre de maneira tão frequente entre os concursados.

Atribuo esse movimento concurseiro entre os jovens servidores, principalmente, à falta de perspectiva de ascensão funcional por desempenho e à diferença gritante de remuneração entre carreiras. O primeiro fator acaba não incentivando o servidor recém-ingresso a dar o melhor de si com vistas a obtenção do reconhecimento por meio de uma possível gratificação, variável de acordo com o alcance de metas, ou pela aquisição de uma função de coordenação em sua equipe. Os próprios órgãos não costumam oferecer aos seus jovens servidores oportunidades de exercer funções de confiança. No caso das funções de livre provimento, os jovens se ressentem de não possuir força política. E quando há processos seletivos para o preenchimento dessas funções (ferramenta que considero excelente), a antiguidade na Casa muitas vezes é tida como critério eliminatório de escolha.

Mas não há dúvida que o problema maior está na diferença de remuneração entre as carreiras. O jovem servidor acaba se movimentando de um órgão para outro em busca de uma carreira que lhe ofereça essas oportunidades de crescimento e uma boa remuneração. Mesmo que, apesar da diferença, ele acabe exercendo as mesmas funções. Já mencionei aqui algo como a exagerada diferença salarial entre um servidor jornalista em início de carreira de um Ministério cuja carreira seja o "carreirão", de um Ministério em que haja carreiras estruturadas, de um outro das chamadas "carreiras de elite" do funcionalismo, e de outro que desempenhe as mesmas funções no Legislativo, por exemplo. A diferença entre a mais baixa e a mais alta remuneração pode chegar a 17 mil reais, sendo que pode não haver expressiva diferença de atribuições.

Logo, aquele servidor que deseja trabalhar com comunicação na administração pública e tenha sido aprovado em concurso do "carreirão" vai acabar estudando para ingressar em vários dos órgãos que remuneram dentro desse espectro de diferença salarial. Louvável, já que a aprovação em concursos é uma forma de crescimento na carreira e o estudo promove o aprimoramento dos conhecimentos sobre administração pública. Mas, será que não seria mais interessante que o servidor se dedicasse a adquirir os conhecimentos necessários ao seu ofício no órgão no qual ingressou inicialmente? Caso as diferenças não fossem tão absurdas, será que os jovens servidores não ficariam menos preocupados em "estudar para outro concurso" e mais preocupados em melhorar o seu trabalho, seguindo suas carreiras de forma mais consolidada em seus órgãos iniciais? Vale a pena refletir.

Um comentário:

RC disse...

Caro Alex, já tivemos a "coragem" de igualar os vencimentos do topo do Executivo, Legislativo e Judiciário. Que tal agora termos a coragem de cumprir a Constituição e organizar essa bagunça que é a remuneração do serviço público federal (que o Bresser já defendia em 1995!)? Mas aí, claro, será preciso enfrentar questões espinhosas, como o fato de que algumas carreiras estão com remuneração inflacionada, e naturalmente precisarão ficar congeladas por um tempo. Não dá para aumentar a remuneração de mais de 1 milhão de servidores (só entre ativos) para R$ 20 mil, não?