segunda-feira, 24 de maio de 2010

A raiz do problema não é o som

Amigas e amigos queridos, peço que tirem uns minutinhos do precioso tempo de vocês para se dedicarem à leitura do artigo "A raiz do problema não é o som", de autoria deste seu amigo, publicado hoje (24), no Correio Braziliense. Uma ótima semana a todos!

A raiz do problema não é o som

Alex Alves*

A barbaridade da qual foi vítima o militar Anísio Oliveira Lemos, agredido por jovens ao reclamar do volume do som no posto de gasolina da 214 Sul, chocou a nossa cidade. A atitude violenta cometida pelos jovens que incomodavam a vizinhança com o volume do seu som merece ser severamente repreendida, e as responsabilidades, nas esferas cível e criminal, apuradas.

Faltou, para esses jovens, educação. Não necessariamente a dada pela escola. Faltou aquela educação que recebemos dos nossos pais mesmo. Pode ter faltado zelo dos pais em acompanhar as atitudes dos filhos. Em suma, faltou a esses jovens assimilar valores muito próprios do convívio harmonioso em sociedade.

No entanto, a indignação com a atitude covarde desse grupo não pode ofuscar um debate quase sempre deixado em segundo plano pelos nossos gestores públicos: o que fazer para oferecer aos jovens brasilienses, de todas as classes sociais, formas de educação, cultura e entretenimento que os tirem do caminho da violência?

Creio que para responder a essa pergunta, é necessário dizer que a educação, além da oferecida pela escola, deve também vir de casa. Muitos pais, em razão da extensa jornada de trabalho, têm delegado as suas funções à escola, que também não consegue atender a contento a elevada demanda de atenção a que os jovens fazem jus. Dessa forma, o primeiro passo para evitar novos incidentes como esse dependem da própria família do jovem e, principalmente, dos valores que ela pode transmitir.

Quando mais novo, eu era um aficionado por som automotivo. Costumava reunir os amigos na porta das festas, confraternizar, ver o movimento e namorar, sendo que alguém da própria turma ficava como responsável pela seleção musical. Nós, jovens de classe média, encontrávamos ali uma forma de diversão barata, animada e acessível. A alegria do nosso grupo rapidamente contagiava outros grupos de jovens que, independentemente do poder aquisitivo, acabavam juntando-se à nossa turma durante a noite. Isso tudo feito sem baderna, sem violência e com o respeito que as nossas famílias nos ensinaram a ter pelo próximo. Se alguém nos pedia para diminuir o volume, a resposta era: “Sim, senhor, nos desculpe”. E prontamente atendíamos ao pedido.

Vale mencionar que, àquela época, a legislação distrital era um pouco mais permissiva com relação às opções de diversão, e o acesso ao entretenimento de qualidade provido pelo empresariado não era tão excludente quanto nos dias atuais. Havia ainda tendência de criação de novas opções de entretenimento de baixo custo, como concebido pelo Projeto Orla, hoje abandonado e substituído por alternativas destinadas a quem tem poder aquisitivo acima da média.

O jovem parece se ver reprimido pela legislação distrital, que limita o horário de funcionamento dos bares, mas não cria alternativa segura e acessível para que possa encontrar-se com os amigos ou namorar. O jovem se vê tolhido no seu direito de trânsito ao encontrar uma das passagens de ônibus mais caras do país, transporte que ele espera, não raro, por 30 minutos a uma hora, sendo otimista, para conseguir embarcar. O jovem de Brasília não namora mais no carro (quando possui) ou embaixo do bloco, com medo do sequestro relâmpago. O jovem não anda mais a pé pela noite da cidade, dominada pelo crack, droga que o atinge duplamente: o vitima pelo vício e pela criminalidade dele decorrente.

Enquanto isso, faltam opções de (ou, pelo menos, que seja dado amplo conhecimento à população sobre) entretenimento gratuito ou de baixo custo para a juventude. E, apesar de injustificável, o caminho mais fácil para muitos dos jovens, na ausência de sua inclusão cultural, acaba sendo o da violência, das drogas, da criminalidade. É preciso que famílias, governo e empresariado mostrem ao jovem que o teatro, o cinema, a leitura, as boates e os espetáculos lhe são acessíveis e infinitamente mais enriquecedores que a marginalidade e a estupidez.

Está na hora de se pensar em políticas públicas de cultura e lazer para a juventude. Tratar esse assunto como prioridade governamental não reparará o dano e o sofrimento causado ao senhor Anísio e à sua família. Mas pode evitar que novas barbaridades como essa se repitam.

Um comentário:

Wawa disse...

Oi Alex,

Parabéns pelo blog, gostei bastante do conteúdo e estou te seguindo...

Abraços