sexta-feira, 10 de abril de 2009

A burocracia da linguagem burocrática

Se procurarmos no dicionário o significado da palavra "burocracia", provavelmente iremos nos deparar com algo semelhante a "estrutura estatal responsável pela administração pública", ou simplesmente estrutura administrativa estatal, o que por si é muito válido e necessário. Certamente, também estará presente no texto a menção à acepção pejorativa do termo: entraves e expedientes obrigatórios durante a realização de tais atividades. Não é raro associarmos o termo a morosidade e outras características igualmente indesejáveis.

Um dos fatores que contribui para essa visão é a forma predominantemente utilizada para redigir os documentos e comunicações no setor público. Em vez de privilegiar o conteúdo simples e a linguagem direta, acaba ocorrendo, certas vezes, uma busca desnecessária por um vocabulário arcaico e pouco prático que, muitas vezes, serve apenas para demonstrar o elevado grau de conhecimento do redator do documento - ou para demonstrar estar à altura do conhecimento de determinado leitor específico - sendo que, em regra, o texto emanado de órgão público deveria ser de fácil compreensão a toda a população.

Apesar da recomendação oficial (inclusive em sentido amplo, com o princípio constitucional da Publicidade) para que os textos burocráticos sejam mais claros e simples, diversas formalidades desnecessárias, já abolidas dos manuais de redação privados e governamentais, continuam vivos nas diversas esferas do poder, causando prejuízos aos cofres públicos, tanto pelo desperdício de material como pelas falhas de comunicação que podem provocar, em razão do uso exagerado de expressões de difícil entendimento.

Enquanto os detentores de cargos públicos, advogados e demais operadores e agentes da máquina administrativa não empregarem conjuntamente esforços no sentido de tornar mais compreensíveis os textos por eles produzidos, burocracia continuará sendo um termo associado a algo negativo. E ler um texto burocrático, para a maior parte da população, continuará a envolver uma enorme burocracia.

Nem só de agências é feito o mundo da publicidade

Caros leitores, muito bom dia! Que essa sexta-feira santa seja das mais renovadoras e felizes de suas vidas. Que pensemos um pouco no sacrifício que Ele fez por todos nós. Mas como esse blog (não o blogueiro) se pretende laico, vamos direto ao tema da postagem.

Tenho observado que a grade dos cursos de Publicidade e Propaganda das principais instituições de Ensino Superior da cidade pouco se voltam a assuntos como o serviço público, a legislação que envolve a atividade da publicidade, noções sobre licitações, comunicação pública... Enfim, as grades curriculares se rendem ao estereótipo de que o publicitário é o cara criativo que nasceu para trabalhar apenas nas agências de publicidade.

Todavia, o que se vê na prática, em Brasília, é um número cada vez maior de publicitários ingressando nas mais diversas carreiras do serviço público, ou assumindo cargos de confiança, ou trabalhando em agências especializadas no atendimento a clientes governamentais, sem que esses profissionais tragem em sua bagagem a necessária formação acadêmica para lidar com os assuntos que envolvem o setor público.

Muitas vezes, o aluno sai da faculdade sem conhecer a fundo a lei que rege a sua profissão. E sem a noção que um bom conhecimento da Lei de Licitações pode ser útil para desempenhar bem o seu papel na agência em que trabalhará. Por isso, uso este espaço para chamar a atenção das Instituições de Ensino Superior para esse fato que é patente em Brasília: o rumo cada vez menos privatista e mais voltado ao setor público que a Publicidade e os publicitários vêm tomando. Quem ficar alheio a essa tendência, certamente ficará para trás no nosso acirrado mercado.

Sugestão de leitura: Marketing no Setor Público, de Philip Kotler e Nancy Lee.